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Leia os Quatro Primeiros Capitulos

Leia os Quatro Primeiros Capitulos

Obs: Vou postar conforme a autora posta no site dela - Site da autora

 

Obra protegida por direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução, no todo ou em parte.
Através de quaisquer meios.

 

Primeiros 4 Capítulos:    Boa Leitura!

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Índice
Conversa -------------------------------------------------------- 11
1 - A Floresta -------------------------------------------------- 12
2 - A Garota da floresta ------------------------------------ 43
3 - Pedido ------------------------------------------------------- 71
4 - O Visitante e a... ---------------------------------------- 89
5 - O Casamento --------------------------------------------- 115
6 - Surto de Violência -------------------------------------- 128
7 - Elise --------------------------------------------------------- 143
8 - loucura? ---------------------------------------------------- 172
9 - A Empresa ------------------------------------------------- 199
10 - O trabalho ------------------------------------------------ 219
11 - Fim de Semana ---------------------------------------- 237
12 - Jhonatan -------------------------------------------------- 254
13 - Homer ----------------------------------------------------- 269
14 - Agenda ---------------------------------------------------- 294
15 - Pesadelo ------------------------------------------------- 311
16 - Declarações -------------------------------------------- 320
17 - Visão ------------------------------------------------------ 339
18 - Waterfront Park --------------------------------------- 368
19 - Facilitar --------------------------------------------------- 382
20 - Judy -------------------------------------------------------- 400
21 - Sequestro ------------------------------------------------ 422
22 - Hospital --------------------------------------------------- 441
23 - Primeira noite ------------------------------------------- 455

Conversa -------------------------------------------------------- 473
1 - Um Anjo em minha Vida ----------------------------- 476
2 - Uma Viagem inesquecível --------------------------- 503
3 - Primeira noite -------------------------------------------- 520

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Eu estava completamente vivo...
E completamente morto...
                          David Andrews.

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Coisas que eu não
quero esquecer..!
                        Elise Reily

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Maio de 2011.

Conversa


 

- Um dia eu disse a Elizabeth. “Não vou deixar que nada te aconteça prometo. Está preparada?”

- E ela me respondeu sorrindo, feliz:

"Sim vamos, do seu lado estou sempre preparada e sei que nada pode me acontecer."

- Hoje, quando lembro dessas palavras tenho vontade de morrer, não cumpri minha promessa... Meu peito se desfaz em areia aonde não há lugar para mais ninguém e meu mundo some por completo, vivo como se eu fosse uma duna arrastada pelo vento ao prazer da natureza, condenado ao mundo por toda eternidade em desertos de saudade e sofrimento. Um castigo sem fim... Sem palavras que expressem o que sinto na verdade...

- Mas quem é Elizabeth? Eu queria muito saber tudo que realmente aconteceu com vocês dois. Preciso entender por que você é contra minha decisão.

- Só não quero que você sofra como eu srta. Andrews, viver eternamente pode ser difícil e você tem que estar preparada.

- Então me conte sua história, acho que já posso entender.

- Claro. Vou te dizer como fui transformado e depois começo a contar minha história 90 anos antes de Elise, o ano de Elise e 20 anos depois.

- Srta. Andrews... Nossa conversa será muito, muito longa...

 

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Capítulo - 1

A Floresta

 
 


Meu nome é David Andrews, sou um ser do tipo que os humanos chamam de vampiro.

Uma raça assassina que amedronta, mata e bebe sangue, preferencialmente dos humanos. Uma raça que os próprios humanos, ou sua grande maioria não acreditam que exista.

Mas nós existimos, somos discretos e não gostamos de chamar a atenção, vivemos misturados e ao mesmo tempo isolados em nosso segredo. Uma vida em parte comum e até bem normal se não fosse alguns fatos que são impossíveis de adaptar como alimentação, sono e algumas outras coisinhas.

Eu e meus amigos somos diferentes dos outros vampiros. Não atacamos, matamos, amedrontamos ou sequer bebemos o sangue humano, pois achamos que os humanos são como nós, ou melhor, nós queremos ser como eles, não queremos ser monstros de contos nem de histórias de terror, queremos parecer normais e vivemos com o máximo de normalidade possível, tirando a nossa alimentação conseguimos fazer todo o resto parecer normal, nos alimentamos de grandes animais.

Eu tinha vinte e dois anos quando fui transformado em


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1861, sou de Painswick na Inglaterra.

Eu e o meu pai tínhamos uma pequena propriedade onde criávamos ovelhas para a fabricação de lã.

Eu estava praticamente morto depois de ter me afogado em um rio. No dia do afogamento estava com Philip e Jhonas eles eram irmãos e meus amigos de infância, moravam em uma casa próxima a minha e eu tinha a mãe deles como substituta da mãe que eu nunca tive pois a minha morreu assim que eu nasci.

Estávamos pescando no rio perto de casa, nessa fase da minha vida eu já não tinha mais meu pai que faleceu um ano antes desse acidente, eu morava praticamente sozinho. Não estava totalmente só pelo fato de Philip e Jhonas nunca saírem da minha casa, nós fazíamos tudo juntos e eles até me ajudavam com todo trabalho da propriedade.

 Do outro lado do rio havia uma família com duas moças que passeavam, as moças eram lindas e olhavam para o nosso lado com charme e graça, elas sorriam para chamar a nossa atenção, ficavam de brincadeiras e nós estávamos adorando, eramos jovens e cheios de vontade de ter uma namorada.

Philip se encantou demais com uma das moças e resolveu nadar para se exibir, ele sabia que não era fácil nadar naquela profundidade, o rio era traiçoeiro e cheio de grandes buracos no fundo. Outras pessoas já haviam morrido ali.

Ele me disse antes de pular:

- Vamos David, deixe de ser medroso.

 

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- Não Philip é perigoso – Gritou Jhonas.

- Não Philip – Gritei junto com Jhonas.

Mas ele achou que conseguiria, quando se jogou na água eu e Jhonas gritamos para que não fizesse isso, que era muito perigoso mas Philip não quis nos escutar e se jogou no rio de qualquer jeito.

Ele afundou e subiu novamente, se manteve na água por algum tempo e depois começou a afundar outra vez sumindo dentro da água, me joguei também para tentar ajudar pois eu sabia nadar um pouco. Eu não me arriscaria ali mas precisava ajudá-lo.

Jhonas correu para chamar ajuda e não chegou a tempo, para falar a verdade nunca mais vi Jhonas.

Foi tudo muito rápido, agarrei Philip e tentei subir com ele para a superfície. Philip entrou em total desespero e me puxou para baixo, agarrou no meu pescoço tentando subir para respirar e eu não conseguia me livrar dele, afundávamos cada vez mais. Perdi todo o ar que tinha na luta para fazer Philip me soltar e quando ele começou a enfraquecer eu já estava perdendo os sentidos.

Nos afogamos os dois...

Quando acordei sentia uma dor insuportável e depois que a dor passou percebi que estava em uma casa estranha com algumas pessoas mais estranhas ainda e foi quando descobri que um homem que estava ali, Adam Collins, havia me tirado da água quase morto e tentou me ajudar com seu veneno.

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Ele não conseguiu salvar Philip, que já estava morto quando Adam me tirou da água.

Fiquei totalmente revoltado e demorei para aceitar a sorte do destino, mas Adam me fez ver as coisas por outro lado, um lado melhor e eu acabei aceitando, afinal não tinha mais volta era aceitar ou aceitar.

Isso foi a cento e cinquenta anos e eu ainda tenho vinte e dois e vou passar o resto da eternidade com essa idade.

Alguns anos depois da minha transformação Adam foi morar em Willow, Alasca e eu fui junto com ele e sua família.

Sua família consistia somente ele e sua esposa Mary, mas ele gostava de dizer que eu era parte dela. Eu gostava dele, gosto até hoje mas sentia que meu lugar não era com eles, faltava algo que eu tinha muita necessidade de recuperar. Depois de transformado comecei a ver e sentir coisas que nunca havia notado quando era humano.

Foi em Willow que conheci Etienne Bell, hoje Etienne Miller mas essa parte explico depois. Ela era amiga de Adam e de sua esposa desde os tempos em Painswick, quando ela veio sozinha para Willow entes de Adam me transformar e ficou muito minha amiga também. Muito mais que amiga na verdade!

Etienne é mais nova que eu em idade humana e mais velha como vampira, mas ela demorou muito para me dizer sua idade real, que contarei a você em outra oportunidade.

Ela tem dezessete anos é divertida, animada, pequena,


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corpinho de boneca com cabelos claros e longos, rostinho de princesa e tem uma personalidade forte.

Vivi com Adam um bom tempo e aprendi muita coisa com ele, inclusive a preservar os humanos. Mas Adam não ficava muito tempo em um lugar e eles resolveram ir morar na França, fiquei meio perdido pois não queria ir, não gostava de ficar mudando toda hora e adorei o Alasca, me sentia bem aqui.

Em uma visita de Etienne eu contei a ela da mudança para a França aonde Adam iria passar a viver.

Ela chegou na minha casa toda animada como sempre, me abraçou e perguntou:

- Olá David! Cadê Adam e Mary?

- Não estão em casa. Vamos passear no jardim? - Convidei, eu estava um pouco triste.

- Vamos! - Ela me olhou desconfiada e perguntou quando chegamos no jardim – O que está errado? Você está estranho.

- Não é nada minha querida - Tentei disfarçar.

- Te conheço o suficiente para saber que você está triste e não gosto nada disso – Ela insistiu, para variar.

- Adam vai para a França com Mary – Eu disse aborrecido.

- Você vai com eles? - Etienne perguntou curiosa por que não queria perder os amigos, principalmente a mim que fiz uma amizade verdadeira com ela.

- Não, não sei ainda o que vou fazer mas não quero sair do país – Abaixei a cabeça.


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- Você não pode ficar sozinho no mundo, é deprimente demais – Etienne se lamentava por mim. Ela falava muito e achava que era deprimente ficar sozinho, mas na verdade ela tinha intenção de me levar para sua casa.

- Tenho você. É minha melhor amiga – Eu sorri para ela, ainda sem entender sua intenção.

- Eu sei mas nem sempre vou poder estar perto de você, te fazer companhia, alegrar seu dia, te fazer rir etc... etc... - Ela se sentia o máximo e eu achei graça.

- Vou ficar esperando ansiosamente os dias que você puder vir minha querida e quando você chegar vai poder alegrar meu dia, me fazer rir etc... e etc... - Ficamos rindo juntos, Etienne sempre me alegrava – Você não precisa se preocupar comigo Etienne, vou ficar bem e não pretendo sair de perto de você.

- Preciso me preocupar sim. Que chato isso! Porque Adam não sossega em um lugar só? - Ela tentava fingir que estava aborrecida mas não estava.

- É a vida que eles gostam de levar, o que se pode fazer? Não se pode fazer nada – Perguntei e respondi aborrecido outra vez e sem entender o por que ela estava tão feliz e fingia que não estava.

Depois de um tempo em silêncio lembrei do amor da vida dela, fazia tempo que ela não falava dele e eu queria mudar de assunto.

Etienne era loucamente apaixonada por um vampiro que,

 

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aparentemente não estava nem ligando para ela.

Perguntei curioso:

- Mudando de assunto e aquele cara que você fala tanto?

- Archie? Continua na mesma.

- E..? - Insisti como ela fazia quando eu não queria dizer alguma coisa.

Ela pensou um pouco e depois disse, decepcionada com a própria sorte.

- Acho que ele não quer nada comigo, ele me olha diferente mas acho que é só amizade – Ela abaixou a cabeça.

- Do jeito que você fala dele com todo esse amor que sente ele seria um idiota se não quisesse você, você é linda, esperta, comunicativa, brincalhona, chata, insuportável as vezes mas eu aguento. Não imagino quem não iria te querer! – Ela me olhou desconfiada e conclui – É... Realmente ele é um idiota.

- Você está me cortejando? - Etienne achava graça.

- De jeito nenhum, o que sinto por você é uma pura e bela amizade – Me defendi.

- Então você também é um idiota? - Ela defendeu Archie ainda sorrindo – Só por que você não quer nada comigo é um idiota?

- Tudo bem está certo não vou mais falar mal do rapaz, eu só quero que você seja feliz eu te adoro, muito mesmo – E era verdade eu só queria o bem dela.

Etienne sorriu e teve uma ideia, aliás ela fingiu ter uma

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ideia, por que essa ideia já estava na cabeça dela desde o momento que contei da mudança e eu não havia notado ainda.

- Vem morar comigo e meus irmãos você vai gostar deles, assim não fica sozinho e não precisa se afastar de mim – Seus olhos brilharam, certamente já me imaginando morando com ela e seus irmãos.

- Não sei se seria uma boa ideia, seus irmãos podem não gostar do convite que você está me fazendo. Eles nem me conhecem! - Fiquei apreensivo.

- Vão gostar sim eu falo sempre de você lá em casa e eles tinham dito que queriam te conhecer, estão loucos para te conhecer. São bons amigos e sei que você vai gostar deles também, vamos?

Desisti de contrariar Etienne:

- Vou lá visitar e conhecê-los primeiro se eles gostarem de mim e eu deles posso pensar no assunto – Disse isso para ela parar de insistir, eu não tinha intenção de morar com ninguém desconhecido.

Mas Etienne quando colocava uma coisa na cabeça tinha que fazer e ela gostava demais de mim para me deixar sozinho ou me deixar ir embora.

Depois de alguns dias, por muita insistência de Etienne, fui na casa dela conhecer seus irmãos. Não eram irmãos de verdade eram tipo um grupo que viviam em plena harmônia, vampiros que eram solitários como eu e resolveram se juntar

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formando uma família. Inclusive Archie, o amor dela também morava lá.

Todos me trataram muito bem, só Archie que não foi muito com minha cara na época mas foi extremamente educado, me convidaram para fazer parte do grupo e como eles realmente eram ótimas pessoas e eu, não querendo ficar sozinho o resto da eternidade resolvi mudar para esta casa aonde fui muito bem recebido.

Me senti em casa com eles!

Passei a morar desde então com todos os sete irmãos. Etienne, Archie, Monique, Antony, Jully, Richard e Kenai.

Depois de algum tempo de convivência com eles descobri por que Archie não gostava de mim, ele era apaixonado por Etienne e a amizade dela comigo o deixava muito perturbado, ele achava que eu queria Etienne como mulher o que não era verdade, nunca olhei para ela desse jeito, eu adorava ela de uma forma diferente e ela também era pura em sua amizade comigo, eu sentia isso nela, era como se eu fosse realmente seu irmão.

Mas tínhamos uma enorme afinidade e intimidade o bastante para deixar Archie louco de ciúme e raiva de mim.

Um dia Archie estava sozinho na sala sentado no sofá pensativo e amargurado com sua vida de sofrimento por um amor supostamente não correspondido e eu resolvi dar uma de cupido, eu já estava enjoado com aquele clima todo, ela querendo ele e ele querendo ela e achando que eu também

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queria. Uma grande, insuportável mistura de sentimentos que me aborrecia muito, ainda mais pelo fato de Archie não tomar uma atitude e ficar se lamentando pelos cantos.

Sentei perto dele e comecei a conversar:

- Quer jogar xadrez? - Perguntei.

- Não – Ele foi seco mas não me intimidou.

- Você poderia me ensinar a tocar piano, o que acha? Sabe tocar muito bem! – Archie tocava piano como ninguém, era um verdadeiro profissional.

- Sei tocar mas não sei ensinar – Ele não queria mesmo papo comigo mas eu queria conversar, tinha que achar um jeito de chegar no ponto certo dos sentimentos dele.

- Umm! - Fiquei sem assunto diante tamanha recepção mas não iria desistir.

Ficamos em silêncio um tempo até que Archie deixou a educação de lado e falou sem meias palavras:

- O que você quer aqui afinal? Me deixe em paz!

- Você não gosta muito de mim não é? - Perguntei jogando honestamente com ele, afinal ele realmente não gostava.

- Impressão sua – Ele foi seco e mentiu, depois completou irritado comigo – Que diferença isso faz pra você? Já tem tudo que quer!

- Pode ser que eu tenha mesmo mas realmente queria sua amizade – Pensei um pouco e disse sendo honesto – Eu gosto de você.

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Archie não disse nada e eu continuei:

- Etienne me disse que você só precisa se acostumar com a ideia, que você se preocupa muito com todos aqui – Joguei.

- Ideia de que? - Ele ficou curioso e nervoso.

- Eu com ela, você sabe...

- Vocês dois estão juntos?! - Ele disse amargurado e ficou arrasado só em pensar na possibilidade de me ver abraçando e beijando ela dentro de casa.

Resolvi acabar com a tortura dele e disse:

- Não estou com ela Archie, gosto dela como uma irmã que nunca tive, não do jeito que você pensa – Confessei.

- Mas você acabou de dizer... - Ele ficou confuso e eu cortei dizendo.

- Dei a entender por que queria ver sua reação, sei que você é apaixonado e agora tenho certeza que você não gosta de mim por causa dela.

- O que adianta? Ela parece apaixonada por você – Ele estava derrotado.

- Isso é mais um engano seu, antes de te conhecer ela já me falava sobre você, ela está apaixonada e você ai só pensando bobagens. Etienne me adora, sei disso, mas como irmã e nós não temos nenhum sentimento de homem e mulher um pelo outro – Dei um tapinha no ombro dele e levantei, ele ficou em silêncio meio em dúvida.

Eu insisti:

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- Melhor você tomar uma atitude, deixe de ser tímido a garota está te esperando.

- Você tem certeza disso? Não quero parecer um bobo na frente dela – Ele estava inseguro.

- Papel de bobo você já está fazendo deixando uma linda moça sofrer por você e você ai sofrendo por ela. Isso não tem sentido, vocês se amam acabe logo com esse clima e sejam felizes, ninguém nessa casa aguenta mais vocês dois – Archie riu e eu saí deixando ele sozinho com sua nova esperança de felicidade e cheio de amor em seu coração gelado.

Ainda ouvi ele dizer:

- Obrigado David.

Depois de dois anos eles se casaram com uma linda festa, Etienne estava radiante em seu vestido maravilhoso e Archie me olhava com o coração cheio de amizade e gratidão. E ela passou a se chamar Etienne Miller, depois do casamento.

Archie é hoje meu melhor amigo, junto com os outros claro, mas Archie e Etienne que seguraram a maior parte da minha angústia, do meu desespero durante muitos anos e se não fosse por eles eu não estaria aqui contando essa história hoje.

E foi nessa casa, com meus sete novos amigos que tudo aconteceu...

Estávamos no ano de 1900, dia 10 de Agosto, me lembro bem pois nunca vou esquecer esse dia que mudou o resto da minha existência.

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Sentei em um dos bancos do jardim, a tarde estava agradavelmente nublada e o clima estava perfeito, pois o sol, bem o sol ao contrário de muitos mitos sobre nós ele não queima na hora, só nos faz mal se ficarmos mais de alguns minutos expostos, ai sim ele queima e queima muito. Eu mesmo já cheguei a quase meia hora de exposição ao sol em uma disputa com Kenai, de brincadeira, mas o sol estava forte se estivesse mais ameno eu aguentaria mais tempo.

Sentado em um banco no jardim comecei a ler um romance da época, a leitura estava chata e minha mente não se prendeu a ela. Então algo diferente me chamou a atenção, olhei em volta mas não consegui identificar quem era exatamente, eu sabia que vinha da floresta e sabia também que não era nenhum dos meus amigos pois eles estavam todos dentro de casa.

Agucei os meus sentidos, olhei através das sombras da floresta até aonde minha visão podia alcançar, mas não vi nada diferente. Eu tinha certeza que havia alguém lá e estava me observando, pude perceber a indecisão e o medo vindos em ondas em cima de mim, senti um cheiro diferente, era um vampiro como nós e isso eu também tinha certeza.

Mas porque o medo?

Levantei e olhei para a floresta por mais algum tempo perturbado com a situação, aquela presença me incomodou muito e eu não sabia por que, fiquei completamente entregue a dúvida e a curiosidade. Eu queria, precisava saber quem era de qualquer maneira.

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Depois de observar por um longo tempo e não ver nada resolvi procurar os outros dentro de casa e conversar com eles sobre isso.

Na sala de música encontrei Antony remexendo alguns papéis sobre a mesa e ouvindo sua música favorita, ele estava completamente distraído. Andei pela sala e desliguei a música, ele me olhou aborrecido mas eu precisava de sua atenção. Ele é como eu, sinto a presença de um ser qualquer estranho e sem mesmo ver essa pessoa posso saber tudo o que a pessoa sente, quando é uma pessoa conhecida eu sei exatamente quem está por perto e tudo o que está sentindo também, nós só não podemos distrair muito a mente com algo que nos tome completo interesse, se isso acontece não percebemos nada a nossa volta.

Antony Hall é o mais velho em idade humana e o mais velho dos vampiros naquela casa, ele tem vinte e cinco anos, um corpo moreno e atlético, é um homem cheio de princípios com um excelente caráter, o mais experiente dos oito. É o nosso, digamos, líder.

É casado com Monique Hall, ela tem vinte e três anos, morena com cabelos longos, muito bonita, carinhosa e meiga, mas é muito, muito silenciosa. Ao contrario de Antony ela não gosta muito de barulho, mesmo sendo de música e prefere passar a maior parte do seu tempo em seu quarto.

- Você não percebeu? - Perguntei já sabendo sua resposta, Antony quando estava apreciando sua música não sentia, não escutava, só a música, e nem via nada, ficava completamente

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entregue as suas lembranças felizes.

- O que?! - Perguntou – Etienne aprontou o que desta vez?

Etienne era sempre a primeira opção quando queríamos descobrir quem fez uma certa besteira, ela aprontava com todo mundo, não ficava quieta um minuto que fosse e era, as vezes, até irritante.

- Nada - Falei sério e ele me olhou intrigado. Continuei - É na floresta, tem alguém estranho lá e estava me observando no jardim, é um de nós mas está confuso e com medo. E está sozinho.

- Difícil alguém como nós ter essa descrição – Afirmou ele meio incrédulo, foi até a janela para conferir o que eu estava dizendo, achou que eu poderia estar me confundindo com os sentimentos de quem estava lá fora, sei lá.

Observou por algum tempo, sorriu e disse:

- Tem alguém lá sim e não nos quer nenhum mal. Difícil entender ela está muito confusa mesmo – Deu uma pausa e comunicou sua decisão – Deixe que ela tome a iniciativa se ela quiser se aproximar, não vamos forçá-la.

- Ela?! - Perguntei surpreso.

“Como eu não percebi esse detalhe? “ - Pensei.

- Sim ela, vamos reunir a todos e alertá-los.

Antony estava saindo e eu senti nele um sentimento estranho, como se já conhecesse quem estava lá fora. Então perguntei:

- Você conhece essa mulher?

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Ele pensou um pouco, sorriu novamente e disse:

- Não... Porque?

- Não sei, me pareceu sentir isso em você – Achei estranho mas deixei passar, pode ter sido uma impressão minha e foi justamente a resposta que ele deu em seguida.

- Impressão sua – Antony sorriu outra vez e saiu para chamar os outros.

Fui até a janela e fiquei olhando a floresta.

- Ela?! - Eu me sentia estranho, na verdade não parei para prestar atenção se era ela ou ele, fiquei meio confuso na hora.

Todos apareceram logo para a súbita reunião e Antony expôs o que estava acontecendo, eles não sabiam pois não tinham a mesma sensibilidade nos sentidos como eu e Antony e no início também acharam difícil e até engraçado ter um vampiro com medo na floresta.

Ficaram todos curiosos com a novidade, mas não tanto quanto eu estava!

- David descobriu agora a pouco uma mulher, vampira que está na floresta ao redor da nossa casa – Começou Antony.

- O que ela quer? - Perguntou Jully.

- Não sabemos o que ela quer exatamente mas ela não tem sentimentos de maldade nem de astúcia, me parece até inocente e medrosa – Antony riu, a ideia de um vampiro medroso era muito engraçado e todos riram junto.

- E o que vamos fazer? - Dessa vez foi Etienne a curiosa.

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- Resolvi não fazer nada, deixá-la em paz. Se ela quiser se aproximar receberemos bem se não, deixaremos ela seguir sua vida solitária. O que vocês acham?

Todos disseram que concordavam, pude perceber que nenhum deles deu muita atenção ao fato depois de saber que ela não representava risco para nós e aquilo me irritou, eu queria que todos eles resolvessem sair atrás dela naquele momento mesmo.

"Será que só eu estou eufórico?" - Eu me perguntava.

- Acho que devemos sair agora e caçar ela – Eu disse para o espanto geral, afinal a garota não tinha feito nada.

- Enlouqueceu David?! - Perguntou Kenai.

- Não. Só acho estranho ela ficar rondando aqui sem falar com ninguém, isso é um absurdo, não sabemos o que ela quer realmente.

- A garota está com medo, vamos deixá-la em paz – Disse Antony indignado com minha atitude.

Eu dei uma gargalhada e disse:

- Ela deve ser maluca, nunca vi um vampiro com medo.

- Se você estivesse sozinho em um lugar desconhecido com oito vampiros por perto também estaria com medo – Archie defendeu a garota.

- Tudo bem façam como acharem melhor – Desisti.

- Você não vai perturbá-la... Vai? - Perguntou Etienne.

- Não, se a maioria decidiu está decidido – Eu também

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decidi deixar para lá já que ninguém compartilhava da minha opinião.

- Do jeito que você está irmão acho difícil você deixar essa garota em paz solta por ai – Disse Richard sorrindo, tudo era engraçado para ele!

- David? - Antony sabia que eu não estava conformado.

- Fique tranquilo, não gosto da ideia mas não vou fazer nada – Eu estava aborrecido e irritado com todos ali.

Mas os dias foram passando e eu já não me aguentava de curiosidade, podia senti-la cada dia mais e percebi que tinha algo errado com ela, eu não conseguia captar o que era pois sua confusão de sentimentos me confundia também.

Já havia se passado cinco semanas e ela ainda estava lá discreta, escondida. Talvez nem tivesse consciência de que nós já sabíamos dela, de que eu estava louco com ela lá e querendo desesperadamente vê-la.

Costumávamos caçar naquela floresta com frequência e ela sempre nos seguia de longe, eu procurava com os olhos mas não achava, sabia que ainda estava lá observando e aquilo me deixava irritado. As vezes via um vulto passando rapidamente por entre as árvores mas não dava para ver direito, a parte da floresta que ela estava era muito fechada.

- Um belo dia para caçar não é irmão? - Jully entrou na sala falando, olhou em volta e perguntou – Cadê o pessoal David?

- Não sei – Disse distraído olhando pela janela sentindo a garota. Eu passava todo meu tempo sentindo ela, dia e noite e

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já estava obcecado.

- David?! - Jully insistiu – É claro que você sabe!

Olhei para ela e disse:

- Desculpe, já estão vindo – Voltei a olhar a floresta sem dar muita atenção para Jully.

- Você está cada dia pior, está perdendo a sensibilidade?

- Não só estou muito distraído ultimamente, nada de muito grave – Respondi displicente.

- Isso me parece grave sim você está muito estranho, fica irritado depois triste depois feliz e tudo ao mesmo tempo.

- Você está vendo coisas aonde não existe garota, eu não fico desse jeito – Tive que deixar a janela e dar atenção a Jully que não parava de falar.

- Eu estou vendo coisas?! Não sou eu que tenho mudanças drásticas de humor o tempo todo, nunca se sabe como estará seu humor.

Todos os meus irmãos entraram sorridentes na sala quase ao mesmo tempo, empolgados e felizes com o dia de caça e me salvaram do interrogatório de Jully.

- Vou caçar um urso hoje – Richard estava animado.

- Também vou querer um – Kenai empurrou Richard de brincadeira e os dois começaram uma discussão inútil.

- Vai caçar um só para você e não fica de olho no meu ou eu arranco sua grande cabeça cheia de cabelos seu descarado intrometido – Richard falou empurrando Kenai de volta.

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- Vamos logo para a floresta pessoal e parem de briguinhas bobas? - Disse Archie.

- Richard não tem nada na cabeça e Kenai tem coisas demais, nunca vão funcionar direito – Jully falou rindo e todos nós saímos em direção a floresta.

Jully Cooper é bem mais séria e madura que Etienne mas é também um doce, tem dezenove anos, casada com Richard os dois fazem um par perfeito apesar da grande diferença de personalidade. Ela é meiga, tranquila, discreta, cabelos curtos e ruiva, corpo esguio, muito bonita e inteligente.

Richard Cooper é um grandalhão do tipo academia, um corpo de dar medo mesmo naquela época, tem vinte anos, gosta de brincadeiras, de agitação tem cabelos pretos e bem curtos mas não tem muito cérebro.

Archie Miller tem dezoito anos e é meio desligado no seu próprio mundo quando está de mal humor, nesse caso ele gosta de ficar lendo e escrevendo, mas quando está de bom humor, quase sempre está, gosta de jogos. Ele e Kenai fazem uma ótima dupla para jogar xadrez, é o que eles mais gostam.

É muito inteligente apesar de ter se casado com Etienne que adora perturbá-lo, perturba mais ele do que o resto de nós.

Kenai tem vinte e um anos é muito amigo de todos, coloca sempre os sentimentos dos outros na frente do seu próprio, é incapaz de fazer alguém sofrer. Ele é índio e adorava manter os seus cabelos lisos grandes. É bem moreno, alto e adora jogar xadrez com Archie.

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Eu costumo dizer que Kenai é o primeiro índio vampiro e intelectual da história. Uma mistura que fez de Kenai um ser bizarro, diferente até para os vampiros comuns. Ele é do tipo Nerd o mais inteligente de todos nós, vivia sozinho com seus estudos e não se interessava em casar.

Seu nome verdadeiro é kil Anfernee, ele era de uma pequena tribo daqui da península de Kenai e depois que foi transformado por um vampiro na floresta a muitos anos atrás, resolveu sair sozinho pelo mundo usando o nome de Kenai, sua terra e sua paixão. Até que conheceu Archie que o trouxe de volta para perto de sua terra e para se unir aos novos irmãos.

A única coisa que todos nós gostávamos de fazer juntos era caçar.

Estávamos no meio do nosso divertimento de caça e eu não conseguia me concentrar, aquela sensação de estar sendo vigiado me incomodava e me irritava mais do que os outros dias. Ela estava tão... Perto.

- Qual o seu problema David quer morrer de fome? Porque não se concentra? - Etienne reclamou.

- Estou concentrado só não quero caçar agora – Respondi irritado.

“Estou caçando outra coisa” - Pensei em seguida.

- Está se concentrando em que então? - Ela não desistia.

- Me deixe em paz Etienne – Fiquei aborrecido.

- O que você tem afinal?

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"Mas que chata!" – Pensei e falei em seguida:

- Você está me atrapalhando vai caçar e fique quieta, deixe de ser chata.

- Se você não quer caçar então não estou te atrapalhando em nada – Etienne era teimosa e irritante.

- Já disse para me deixar em paz – Gritei com ela.

Etienne não tinha jeito, ela insistia em me tirar do sério até conseguir:

- Você não está fazendo nada David! - Ela protestou.

- Está bem Etienne você venceu, vou caçar. Me deixe em paz e vá ficar com seu marido por favor.

- Eu vou mas se notar que você está distraído outra vez eu volto entendeu? - Etienne foi para perto de Archie.

- Vou caçar já disse – Ainda gritei com ela.

Eu não queria caçar nada e a única coisa que passava na minha cabeça naquele momento era aquela sensação de... De necessidade talvez, de achar aquela mulher solta na floresta sozinha que estava me tirando do sério e eu não conseguia saber o por que.

Olhei em volta e a vi, finalmente a vi, ela estava um pouco distante. Uma jovem mulher linda, muito linda!

Seus cabelos longos e escuros caídos despenteados e ondulados por cima do ombro combinando com seus olhos castanhos que contrastavam com a pele pálida.

Seu vestido apesar de sujo e um pouco rasgado, dava para

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perceber que nunca havia sido grande coisa, era muito simples como se ela fosse de uma família muito pobre, o que me deixava ainda mais curioso pois nunca tinha visto um vampiro pobre.

Fiquei olhando dentro dos seus olhos por um tempo, ela parecia paralisada esperando minha reação sem saber o que fazer agora que havia sido descoberta.

Seus olhos brilhavam nos meus, minha cabeça deu varias voltas e uma sensação que eu não conhecia e não entendi na hora atravessou todo meu corpo.

- Antony – Chamei baixo, sem me mover e sem tirar os olhos dela.

- Já sei David, não...

Eu não dei tempo para ele terminar o que ia dizer e falei com a garota meio com pressa, gritei ansioso:

- Quem é você?

Sem responder ela correu em direção contrária a nossa e sem poder me conter corri atrás dela, não podia deixá-la fugir, eu não queria deixá-la ir embora e sumir.

Antony correu logo atrás e gritou comigo.

- David não...

Eu parei e ele continuou a falar parando ao meu lado e colocando a mão em meu ombro:

- Ela está assustada não corra atrás dela, deixe que vá. Ela ia se aproximar e você assustou ainda mais – Antony sabia

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que eu era impulsivo - Não seja ansioso você não está fazendo bem a ela desse jeito.

- Porque ela tem tanto medo? É como nós, não tem por que ter medo – Eu não me conformava.

- Não sei – Disse Antony – Parece estar fraca, deixe ela em paz e se controle – Deu um tapinha nas minhas costas.

Antony sabia o que eu estava sentindo. Ele saiu para junto do grupo que observava sem entender a minha reação, não os culpo pois nem eu mesmo entendia minha ansiedade em conhecer melhor aquela garota que, como nós, era forte e praticamente indestrutível e ao mesmo tempo parecia tão fraca e desprotegida.

Um lindo rosto assustado que me conquistou naquele exato momento e quase me levou a loucura...

Nossa casa era bem grande, tinha uma sala na entrada com uma escada para o segundo andar, uma sala de música, outra de reunião, o quarto de Etienne e Archie, o de Jully e Richard, um de Hospedes e outras dependências. Na parte de cima havia o quarto de Antony e Monique, um para Kenai, o meu, mais um de Hospedes e uma sala de jogos.

Antony tinha mandado colocar grades com grossas barras de ferro em todas as janelas, tínhamos muitas coisas de valor e em uma viagem que fizemos todos juntos nossa casa havia

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sido saqueada por alguns ladrões.

Tínhamos um imenso jardim que fazia fronteira com a floresta nos fundos da casa e a sala principal tinha entrada pala frente e dava acesso ao jardim de trás também, era meu lugar favorito, o jardim.

Morávamos em Willow, uma pequena cidade ao norte de Anchorage, Alasca. Seus primeiros habitantes foram os índios Dena'ina. Muitos ainda permanecem no lugar até hoje.

Quando chegamos deixei eles entrarem e fiquei no jardim, eu gostava de passar tempo em jardinagem e tempo é o que mais temos.

Etienne me conhecia muito bem e sabia que tinha algo de errado comigo, sobretudo naquele dia, ficou e sentou em um dos banco do jardim observando as flores e esperando que eu puxasse um assunto, como fiquei em silêncio ela chamou:

- Sente aqui comigo um pouco David.

Sentei ao seu lado e esperei ela falar, já sabia que viria um interrogatório e seria impossível escapar.

- É essa garota não é? Que está te deixando nervoso desse jeito? – Etienne começou carinhosa e passando sua mão em meus cabelos.

- Ela me irrita – Falei sem ter noção do "por que" mas foi exatamente o que Etienne perguntou.

- Irrita porque?

- Não sei.

- David ela não fez nada e nem atrapalha nossa vida.

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- Eu sei e é por isso mesmo, estou curioso e muito, muito incomodado - Eu não sabia o que estava sentindo exatamente, nunca havia passado por isso antes e só sabia dizer que era curiosidade e incomodo.

- Deixe a garota em paz irmão, se ela quer morar sozinha pela floresta que mal há nisso? - Ela tentou me fazer esquecer a garota.

- Tem algo errado com ela e eu não consigo saber o que é, está me incomodando – Eu só sabia dizer isso, incomodando. Parecia obcecado com a situação.

- Porque? - Parecia que Etienne só conhecia essa palavra, tudo ela queria saber e insistia.

- Eu já disse que não sei, passo o tempo todo sentindo ela mas seus sentimentos são uma confusão sem fim, tão grande que eu não consigo saber nada.

Eu disse isso mas na verdade eu é que estava confuso e atribuía isso só aos sentimentos da garota, que também não estavam em ordem!

Etienne deu uma solução:

- Pare de pensar nela então, pense em outras coisas.

Solução fácil se não fosse o forte sentimento dentro de mim que não me deixava esquecer a garota.

- Não é tão fácil assim eu simplesmente não consigo. Agora me deixe sozinho aqui por favor - Me aborreci, falar naquele assunto me deixou mais perdido do eu que já estava só por não conseguir achar resposta nenhuma.

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- Está bem vou entrar, agora esquece a garota para o seu próprio bem, isso vai te deixar maluco – Etienne aconselhou.

Eu até queria seguir o conselho dela mas...

Etienne entrou e fiquei sozinho. Podei algumas plantas, reguei outras, arranquei ervas daninhas. Mas sempre com a imagem da garota na cabeça, era impossível tirá-la de lá, eu não tinha força de vontade suficiente para isso e a presença dela era mais forte do que qualquer interesse que eu tinha na vida.

“Porque não fui atrás dela?”

“O que ela está fazendo por aqui?”

“O que ela queria afinal?”

Minha cabeça estava cheia de perguntas sem resposta.

“Será que ela sabe que essa área é nossa e que não pode fazer desordem na cidade? Deve saber pois até agora não fez nada de escandaloso que possa nos expor.”

“Será que ela foi embora com o susto? “

Parei para prestar atenção:

“Não, ainda está lá eu posso sentir.”

“Porque está sozinha? “

Dificilmente alguém como nós andaria sozinho em uma área desconhecida e já monitorada por outros oito e isso tudo era muito estranho para mim. Eu queria saber, queria ver, queria entender e queria... Tocar nela.

Ela era um mistério que me atormentava dia e noite, as

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perguntas sem respostas, o cheiro, a imagem dela que não saía da minha cabeça, tudo me "incomodava".

E que cheiro! Aquele cheiro que sentia de longe me fazia pensar:

“Se seu cheiro é tão bom e desconsertante de longe, o que eu sentiria perto dela?”

"Porque ninguém mais na casa se interessa em saber sobre ela? Quem é ou o que quer aqui?"

A noite caiu e eu estava perdido em meus pensamentos, sentei em um dos bancos do jardim longe da entrada da floresta e mais perto da casa.

Foi quando um sentimento de curiosidade e medo me tirou dos pensamentos, sentia isso muito mais perto de mim e a presença dela estava bem mais forte desta vez, como se ela quisesse falar comigo.

Comecei a prestar mais atenção sem sair do lugar, eu não queria que ela fugisse outra vez. Todos estavam dentro de casa em seus afazeres e Antony distraído com sua música, como sempre.

“Não saberá o que estou prestes a fazer” - Pensei.

Virei casualmente para a floresta e projetei minha visão, eu podia ver muito longe mesmo no escuro e ela estava lá, levantei bem devagar para não assustá-la ainda mais e fui caminhando calmamente em sua direção.

Ela não se mexia e pensei que pudesse puxar algum assunto, talvez perguntar se ela precisava de alguma ajuda.

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Desta vez perguntei delicadamente:

- Quer alguma ajuda?

Ela não respondeu mas também não correu, então eu disse em tom amigável:

- Não tem por que fugir, você é como nós.

O rosto da garota se transformou de lindo e sereno para uma mistura de medo e raiva e ela explodiu como se eu tivesse dito o maior absurdo que ela já tinha ouvido, parecia que queria me matar só por dizer aquilo.

Ela disse aos gritos:

- Não sou um monstro como você, prefiro morrer.

E antes que eu pudesse me aproximar ela correu para dentro da floresta.

Eu senti uma mistura de frustração, raiva e curiosidade, queria que ela falasse comigo, queria sentir seu cheiro de perto, queria tentar entender o por que eu me sentia tão incomodado com ela, queria que ela me dissesse o por que estava com aquela feição sofrida e aterrorizada, por que me chamar de monstro se era como eu, queria que ela confiasse em mim.

Eu queria cuidar dela...

Foi então que, segundos depois que ela correu, em um incontrolável impulso, corri atrás dela. Foi uma perseguição fácil demais para mim, muito mais fácil do que eu esperava, ela parecia estar fraca, talvez com fome, não conseguia correr com tanta velocidade e me aproximei rápido. Até por que eu

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estava desesperado para me aproximar dela e foi essa vontade que me fez correr com tanta rapidez.

Foi na verdade o medo de perdê-la...

Quando a alcancei, coloquei força demais em um pulo em cima dela, parecia que eu estava caçando um urso gigantesco. Mas foi por pura precaução, afinal aquela mulher era sim uma vampira como eu e meus amigos e eu não sabia até que ponto ia a força dela.

Eu esperava que ela lutasse comigo, mas foi então que percebi, tarde demais, que ela realmente não tinha mais força para lutar, nenhuma comparada a minha força. Era como se eu atacasse um leão que na verdade era um gato, ou melhor, uma gata.

Ela me atraia como um imã!

Eu ficava completamente entregue a ela como se fossemos um só e alguém tivesse arrancado essa parte de mim que eu precisava recuperar a qualquer custo, era uma atração sem limites e sem explicação, eu nunca tinha sentido nada igual e não entendia o por que estava daquele jeito.

A velocidade somada ao meu peso caiu em cima dela como um meteoro e eu perdi todo o controle da situação quando já estávamos disparando pela floresta, abrindo uma faixa no chão e destruindo tudo no caminho.

Quando finalmente paramos percebi que estava por cima dela e ela completamente imóvel, abri os olhos, eu sabia que ela não estava morta mas podia tê-la matado com a minha

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imprudência, eu não podia imaginar que ela estava assim tão fraca... Nunca.

Estava arrependido por não ter escutado Antony mas também estava feliz por conseguir finalmente pegá-la.

Foi uma sensação única...

Fiquei ali, também imóvel olhando seu lindo rosto pálido e gelado, senti seu corpo por baixo do meu e uma satisfação incontrolável varreu meu corpo.

Ela era muito atraente, e aquele... Cheiro!!! Um cheiro de tirar os sentidos e desnortear a mente, bagunçar cada centímetro do meu ser.

Um cheiro que me deixa louco até hoje quando lembro!

Nunca vou esquecer..!

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Capítulo - 2

A Garota da floresta

 

 

Seu rosto estava parecendo o de uma boneca de porcelana imóvel, o tombo fez com que seu corpo de pedra quebrasse um pouco e ela ficou sem vida por um momento. Mas estava linda, um rosto que eu passaria a vida toda olhando e jamais me cansaria por que para mim era uma visão divina como um anjo que acabara de cair do céu.

Não um anjo comum lourinho, não, aquele anjo tinha os cabelos castanhos escuros, uns cabelos com cachos perfeitos estendidos pelo chão e por parte do seu rosto.

Passei a mão e fiz um carinho delicado por seu rosto e sua cabeça para afastar os cabelos e ver melhor cada traço e desenho daquela linda carinha inocente e meiga, sem vida nenhuma em meus braços.

Seu rosto de boneca agora estava voltando a vida, eu ainda estava por cima dela e meu rosto quase colado ao seu. Mas eu não conseguia sair do lugar, eu queria sentir mais seu cheiro só que ela não respirava.

Eu estava perplexo com o turbilhão de sentimentos que surgiam em mim e completamente sem ação.

Ela abriu os olhos devagar mais confusa do que nunca e ficou olhando profundamente nos meus olhos ainda imóvel,

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eu não sabia se ela estava com medo ou se também sentia a enorme atração que passava em todo meu corpo naquele momento, momento que foi sem igual em toda minha vida até então, eu estava tão ou bem mais confuso do que ela e não consegui captar seus sentimentos com clareza.

Eu queria que ela respirasse mas ela não respirava e falei, ou melhor, sussurrei tão baixo que só tive certeza que ela escutou depois que senti seu ar entrando pelo meu corpo:

- Respira... Por favor – Eu queria sentir mais do seu cheiro, seu perfume enlouquecedor!

Aquela atração era algo que vinha da alma, eu podia sentir isso através dos seus olhos, se é que tínhamos uma alma, eu não tinha certeza disso.

Ela respirou devagar mas não se mexeu, continuando ali parada me olhando, meus olhos se fecharam na hora que seu ar passou pelo meu rosto e entrou em mim me revirando por dentro. Era uma sensação de prazer infinito, um prazer que não se imaginava que fosse possível nem nos melhores sonhos.

Eu não sabia definir o que ela estava sentindo naquele momento pois eu próprio estava totalmente desorientado.

Procurei algo para dizer e falei bem devagar:

- Viu como não é tão fácil assim... Morrer, se é que estamos vivos... Eu não sei!

Seus olhos estavam agarrados nos meus e ela disse, para minha surpresa:

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- Me sinto muito viva nesse momento.

Minha cabeça deu voltas e pensei:

“Será que ela estava sentindo o mesmo que eu?“

“Será que entendi bem as palavras dela?“

Me sinto muito viva nesse momento” - Eu refleti um pouco sobre essas palavras.

Na verdade não importava mais, eu estava completamente tomado pelo desejo, me aproximei mais do seu rosto e fui bem devagar em direção a sua boca, parando um pouco para ter certeza se ela também queria, ela fechou os olhos e eu não resistindo mais, beijei sua boca macia como um veludo, como um doce maravilhoso!

Eu não tinha mais corpo nem sabia mais aonde estava, a sensação daquele beijo foi uma sensação de prazer e ao mesmo tempo de alívio por finalmente estar com ela.

Uma sensação que eu levei muitos anos para entender mas hoje sei por que isso aconteceu!

Ficamos ali não sei quanto tempo, nenhum dos dois queria parar. Minha boca saía da sua e beijava seu rosto, descia para seu pescoço com um desejo incontrolável e depois voltava procurando sua boca mais uma vez.

Eu sabia que isso não eram modos de se tratar uma dama mas o desejo que tive por ela era realmente de tirar qualquer prudência, regras de etiqueta ou educação. Naquele momento eu não era mais eu e essas coisas não existiam mais, só existia eu e ela.

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CONTINUA...

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